A ideia da cave da Bodega Otazu, projetada pelo arquiteto Jaime Gaztelu Quijano e pelo engenheiro Juan José Arenas, era transformar o ambiente em uma catedral.
Não que o local precisasse de algo a mais.
Afinal, a vinícola num domínio da Idade Média, já conta com uma igreja romana de San Esteban, do século 12, localizada no coração do senhorio e testemunho da jornada dos peregrinos que passam por ela ao fazer o Caminho de Santiago.
Há ainda a Torre Palomar, do século 14, um ponto da cadeia de torres defensivas medievais que abundam em toda a cordilheira Etxauri e ao redor da cidade espanhola de Pamplona, casa da Bodega Otazu.
E, por fim, um palácio renascentista de origem medieval do século 16 que pertenceu ao senhorio de Otazu.
Uma das esculturas espalhadas pelo terreno da Bodega Otazu
Tamanha é essa singularidade da vinícola nas mais diversas áreas que, desde 2009, ela é uma das 14 vinícolas da Espanha que possui o reconhecimento de qualidade de “Vino de Pago”, a categoria mais alta que uma vinha pode obter e que permite produzir vinhos sob a Denominação de Origem Protegida “Pago de Otazu”.
Assim, vinhos singulares nascem em um ambiente ímpar, repleto de arte.
A reforma da cave começou em 1994 e, quatro anos depois, a “Catedral do Vinho” estava pronta, com seu design inspirado na cripta do Mosteiro de Leyre em Navarra.
Esse seria um ponto culminante da arquitetura da vinícola espanhola localizada perto da cidade de Pamplona, no norte do país, mas sua ligação com a arte e a história são ainda mais intensas.
A Bodega Otazu fica a oito quilômetros de Pamplona, em um vale atravessado pelo rio Arga e cercado pelas montanhas Perdón e Sarbil, em terras que perfaziam o “Caminho de Santiago”. Em 1840, a vinícola foi construída com o primeiro edifício em estilo da renascença francesa. Hoje, tornou-se sede do Museu de Arte de Otazu e da Fundación Otazu.
O Palácio de Otazu, construção renascentista de origem medieval do século 16
Dentro dele fica a “Catedral do Vinho”, uma grandiosa sala de barrica composta por nove lajes de concreto com abóbadas cruzadas.
As nove baías quadradas medem 18 metros de cada lado e são cobertas por abóbadas que chegam a 6 metros de altura. Para garantir que abóbadas cruzadas desse tamanho sejam capazes de resistir à força de compressão a que estão sujeitas, montou-se um sistema de orla elástica da fundação ligando as bases laterais.
O cimento apresenta um motivo forrado, criado pelas faixas formadas pela estrutura da madeira de pinho e pelos grandes quadrados formados pelas juntas dilatadoras necessárias para evitar rachaduras. O que molda o ambiente é o fato de que as abóbadas cruzadas se erguem diretamente do chão, sem a intermediação tradicional de colunas ou pilares, e as luzes nas bases criam a sensação de que o teto está flutuando acima das fileiras de barricas.
Prêmio Internacional de Arte Contemporânea
Como foi dito, dentro do edifício histórico de estilo renascentista fica também a Fundação Otazu, criada pelo diretor da vinícola, Guillermo Penso, com o objetivo de gerenciar um programa em torno de sua coleção de arte contemporânea e do centro de arte da Bodega Otazu em Navarra. As atividades da fundação vão do desenvolvimento e proteção de sua coleção, passando por programas educacionais e bolsas de estudos, até a criação de uma bienal internacional de escultura monumental contemporânea.
Os Guardiões de Xavier Mascaro, duas das mais de 600 obras na bodega
A participação no “Prêmio Internacional de Arte Contemporânea” é feita por convite direto a quatro artistas previamente selecionados pelo conselho de administração da Fundação e seus consultores. Esses criadores são convidados a intervir em um espaço específico do senhorio medieval de Otazu e são convidados a fazer uma proposta monumental que consiga coexistir com a natureza e a longa história dos espaços selecionados. O vencedor da primeira edição foi o artista chileno Alfredo Jaar, com seu trabalho “A cor de nossas vidas”.
A fundação possui cerca de 600 obras de inúmeros artistas, entre os quais Xavier Mascaro, Manolo Valdés, Rafael Barrios, Baltazar Lobo, Alfredo Jaar, Asier Mendizabal, Hans Peter Feldmann, Anish Kapoor, Ai Weiwei etc.
O piso térreo da vinícola atualmente abriga o Museu do Vinho de Otazu, inaugurado em 2013 e formado por seu próprio maquinário, com o qual o vinho foi produzido no Señorío de Otazu antes da epidemia de filoxera.
Por Revista Adega