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Bordeaux 2019 En Primeur: safra para entrar na história

Nem tudo são notícias desagradáveis nesses tempos de pandemia. Os resultados das degustações en primeur da safra 2019 em Bordeaux são mais que animadores. Há diversas comparações qualitativas. Embora alguns tendam a classificar 2019 como um pouco abaixo das grandes safras 2010 ou 2016, para muitos ela não está atrás. Para outros tantos, chega a ser superior. Ou seja, para uma degustação de amostras de vinhos ainda não engarrafados, 2019 realmente promete e a tendência é estarem ainda melhores quando já prontos para serem apreciados.

Além disso, a imagem de uma safra de sucesso geral em todas as sub-regiões de Bordeaux, como as excepcionais 2005 ou 2010, torna-se cada vez mais improvável haja vista que atualmente os verões são mais e mais extremos, seja em quantidade de chuva, de seca ou de calor. Ou seja, muito provavelmente, as safras serão excepcionais em algumas regiões mais específicas, enquanto em outras partes em níveis um pouco inferiores, de acordo com o limite e/ou a capacidade de cada zona e/ ou propriedade gerenciar essas adversidades climáticas, que se mostram cada vez mais corriqueiras.

A produção em 2019 foi de 486 milhões de litros, perto da média de 10 anos e logo abaixo da de 2018. Tudo indica que os tintos têm qualidade para amadurecer, pois apresentam muitos taninos, juntamente com sabores concentrados e ótimos níveis de acidez, considerando o calor do verão. Uma safra promissora também para os brancos secos em Péssac-Léognan e Graves. Já para os brancos doces de Sauternes, além de riqueza e concentração, os vinhos mostraram precisão e equilíbrio, em geral.

O veredito – mesmo para os mais conservadores críticos britânicos, como Jane Anson, da revista Decanter, e Jancis Robinson, que dispensa apresentações, ou para os mais entusiasmados, como James Suckling – é que todos acreditam que essa safra entrará para história como a melhor da última década, seja pela qualidade excepcional de muitos vinhos provados, seja por marcar a consumação da retomada de um estilo mais clássico, encontrado em Bordeaux até meados da década de 1990, que dava menos ênfase à concentração e à opulência.

Em linhas gerais, na margem direita, destaques para a consistência de Pauillac, Saint Julien e Saint-Estèphe. Já na margem esquerda, Pomerol, com Saint-Émilion logo em seguida. Confira, a seguir, a análise mais detalhada de cada sub-região.

PAUILLAC

Os indícios é que daqui sairão muitos vinhos excelentes. No geral, o parecer é que essa denominação teve um desempenho melhor que em 2015, talvez ainda um pouco abaixo da excelente 2016, que continua sendo a referência dos últimos cinco anos nessa zona de Médoc. Houve preocupações com o estresse hídrico, como em todos os lugares, mas a chuva caiu no momento certo.

SAINT-JULIEN

Um dos verões mais secos dos últimos 30 anos em St. Julien, com altas porcentagens de Cabernet Sauvignon em todos os lugares. Vinhos parecem extremamente consistentes. Para muitos, um ano realmente bom nessa denominação.

MARGAUX

Uma denominação que, ao que tudo indica, produziu vinhos altamente recomendados em 2019, mas com um sucesso mais variável do que nas denominações vizinhas, dada à ampla variedade de solos. Há menos argila aqui, como componente dos solos de cascalho em comparação aos de St. Julien, Pauillac e St. Estèphe, o que tenha feito talvez a diferença na tensão e textura dos taninos, o que fica mais evidente nas denominações mais ao norte.

SAINT-ESTÈPHE

Um ano mais equilibrado, comparando-se com a safra 2018, que teve muitos vinhos com alto teor alcoólico e extremamente concentrados. Houve ondas de calor tanto quanto em outras denominações, principalmente de 26 de junho a 27 de julho. Mas aqui, os solos argilosos, que estão em grande parte de St. Estèphe, foram capazes de fazer melhor seu trabalho de manter o frescor.

PÉSSAC E GRAVES

Uma safra atraente, mas com um pouco menos de consistência do que em algumas safras, como a ótima 2015, por exemplo. Muitos vinhos impressionantes, mas também outros tantos exemplos de estresse hídrico e/ou baixa acidez, um reflexo da localização de Péssac-Léognan, em um dos pontos mais quentes de Bordeaux.

MÉDOC, HAUT-MÉDOC, MOULIS E LISTRAC

Em termos de comparação, as primeiras degustações indicam que os vinhos com classificação de Médoc (incluindo os Crus Classés) parecem ter o estilo mais preciso e equilibrado de 1996, 2000 ou 2010 em termos de profundidade e concentração. Por outro lado, são menos consistentes, nos níveis inferiores, a partir dos Crus Bourgeois.

FRONSAC, CANON FRONSAC, SATÉLITES E CÔTES

Resultados bem animadores nessas denominações, competindo com St. Émilion, mas com preços muito mais acessíveis. A adição cada vez maior da Malbec nos blends não mostra sinais de diminuir. Algo já antes notado nos tintos de Côtes, mas agora cada vez mais perceptível em Lalande-de-Pomerol, nos satélites de St. Émilion e em Fronsac.

POMEROL

Provavelmente uma safra excelente em Pomerol e, ao que parece, onde alguns dos melhores vinhos do ano poderão ser encontrados. Para muitos, um forte candidato à denominação da safra, de onde sairão, certamente, vários vinhos excepcionais.

SAINT-ÉMILION

Outra excelente safra em St. Émilion após a ótima 2018. Tudo caminha para que, na maioria dos casos, seja tão boa quanto a do ano anterior. As propriedades que estão localizadas em solos com maior porcentagem de calcário se deram melhor, pois em safras quentes costumam ter mais capacidade de manter a umidade e o frescor. Já as que estão em solos mais arenosos tiveram mais dificuldades.

Por Revista Adega

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