É difícil definir o The Vessel, mais nova atração turística de Nova York, aberta ao público em março deste ano. O próprio nome admite duas traduções: vaso ou navio/embarcação. Mais do que o nome, é sua aparência que confunde. The Vessel é uma grande estrutura de aço e concreto, misto de escultura e instalação, que compreende 154 lances de escada em espiral, interconectados por mais de 2500 degraus, equivalente a um edifício de 15 andares. Ela pode ser visitada por dentro a pé ou, para quem tem mobilidade reduzida, por um elevador que sobe (e desce) muito lentamente até o topo.
Concebida pelo arquiteto inglês Thomas Heatherwick, a obra custou aproximadamente 200 milhões de dólares e foi construída, em partes, na Itália, antes de ser transportada para seu habitat definitivo: o novo complexo de Hudson Yards, que ocupa vasta área delimitada pelas ruas 30 e 34, entre a 10ª avenida e o rio Hudson, no lado oeste da ilha de Manhattan. The Vessel é a cereja do bolo do mais caro empreendimento imobiliário da história de Nova York, possivelmente do país. O custo, quando estiver totalmente concluído (a previsão é 2025), deve alcançar estratosféricos 25 bilhões de dólares em investimentos privados (a maior parcela), mas também da prefeitura e do estado de Nova York.
Além do The Vessel (a visita é gratuita, mediante senha obtida no local) e de seus números superlativos, o complexo de Hudson Yards, que compreende prédios (residenciais e de escritórios) e um novo hotel, ainda em construção, reúne motivos de sobra para atrair turistas interessados em combinar as indefectíveis compras com o melhor da enogastronomia nova-iorquina. A enorme estrutura fica numa grande esplanada, que pode ser acessada pela rua ou pelo shopping de luxo “The Shops & Restaurants at Hudson Yards”. Para quem não resiste a uma comprinha (quem resiste?), não faltam nomes conhecidos para atrair os dólares e cartões de crédito dos visitantes: Banana Republic, Cartier, Chanel, Dior, Fendi, Uniqlo e Zara são alguns deles, além da loja âncora da Neiman Marcus.
Comidas e bebidas
No intervalo das compras, ou após o chamado “window shopping”, que sai mais barato, também não faltam opções de locais para comer e beber. A escolha vai de simples lanchonetes a restaurantes formais. Entre as primeiras, vale citar a unidade da popular rede Shake Shack, criada pelo restaurateur Danny Mayer, o mesmo do famoso Union Square Café. Entre os segundos, o TAK Room, mais novo empreendimento do chef-celebridade Thomas Keller, dos ultrabadalados The French Laundry, no Napa, e Per Se, também em Nova York, só que no Time Warner Center. Também da grife Keller, a filial de seu bistrô Bouchon Bakery é boa opção para carteiras menos abonadas.
De particular interesse para o enófilo curioso é o Wine Bar anexo ao restaurante Estiatorio Milos (os gregos que perdoem a redundância, já que Estiatorio significa restaurante). Nele, podem ser degustados mais de 80 rótulos de espumantes, brancos, rosés e tintos em taça, todos obviamente gregos, acompanhados de mezes e pequenos pratos da culinária helênica. Para quem preferir um jantar completo, com destaque para os peixes e frutos do mar fresquíssimos, é só subir as escadas para o restaurante (recomenda-se reservar) e se preparar para uma conta mais salgada.
Outra novidade entre os restaurantes do complexo Hudson Yards é um espaço inteiramente dedicado à gastronomia espanhola, que em sua concepção contou, inclusive, com a assessoria dos irmãos Adriá (as famosas “azeitonas líquidas”, criação de Alberto, podem ser degustadas ou compradas no local). O “Mercado Little Spain”, uma espécie de Eataly, mais focado no consumo do que na venda de produtos, ocupa ampla área no subsolo do shopping mall e oferece inúmeras opções gastronômicas. Ali se pode comer desde as obrigatórias “patatas bravas”, vendidas numa espécie de quiosque, a pratos de peixe ou de carne, em restaurantes dedicados, respectivamente, ao “mar” e à “leña”. Tudo isso acompanhado de vinhos (ou cervejas, para quem preferir), sempre espanhóis. Aliás, uma das possibilidades é sentar- -se numa das cadeiras em volta de uma espécie de “bar de tapas” e pedir pratos ou pequenas porções (tapas), acompanhados de um “vermú”, tradicional aperitivo espanhol, uma “copa de viño” ou uma “cerveza”.
Comprar vinhos
Nem o Milos nem o Mercado Little Spain vendem vinhos, mas o enófilo poderá comprá-los na Citarella Wines & Spirits, anexa ao Gourmet Market do mesmo nome, um dos mais conhecidos da cidade, agora presente no segundo piso do shopping. No Gourmet Market é possível comprar comida pronta para consumir numa das mesas disponíveis no local ou levá-la para casa.
A vertente gastronômica também está presente em restaurantes especializados em carnes e grelhados (o Hudson Yards Grill, de Michael Lomonico, outro conhecido chef local), em dois ligados à grife Momofuku (Fuku e Käwi) e em espaços que vendem chocolates (Li-Lac), sorvetes (Van Leeuuven) e cafés orgânicos (Jack’s). Ou seja, dá para visitar o local várias vezes sem repetir cardápio.
Antes (melhor ainda, depois) da comilança, recomenda-se um passeio pelo trecho final da High Line, que contorna o complexo à distância e desemboca na rua 34. Construída sobre uma ferrovia desativada, a High Line é o modelo que inspirou a proposta de transformação do horrendo, embora prático para quem se desloca de carro, “minhocão” em São Paulo num espaço público e de lazer. Além de oferecer uma perspectiva diferente do The Vessel e do complexo de Hudson Yards, esse trecho da High Line permite entender melhor a grandeza do empreendimento. Parte do complexo foi construída sobre uma plataforma que cobre parcialmente o enorme pátio de manobras de trens que chegam e partem da Penn Station, que fica próxima.
Dica final para quem estiver programando uma visita a Nova York para as compras natalinas. Até outubro, deverão estar concluídas as obras do prédio que abrigará, em seu 100º andar, o mais novo observatório da cidade. Com entrada pelo shopping, ele terá piso transparente e restaurante no último andar. A 335 metros, esta será a mais nova atração do complexo de Hudson Yards, com a promessa de oferecer uma das mais belas vistas do rio Hudson e da cidade que, nos versos da canção popularizada na voz do imortal Frank Sinatra, “nunca dorme”.